segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

BOMBEIRO DE SP AJUDOU A APAGAR INCÊNDIO NA BASE NA ANTÁRTICA

'Fogo veio andando do fundo para a frente', diz alpinista da missão.
Sistema de combate ao incêndio foi afetado pelas chamas.

27/02/2012 21h05 - Atualizado em 27/02/2012 21h05

Tahiane Stochero Do G1, em São Paulo

Victor Carvalho foi sido contratado pela Marinha para trabalhar com os pesquisadores e militares (Foto: Arquivo Pessoal)

Victor Carvalho foi contratado pela Marinha para trabalhar com os pesquisadores e militares na Antártica (Foto: Arquivo Pessoal)

O tenente do Corpo de Bombeiros de São Paulo Victor Carvalho comemorou o aniversário de 29 anos na Estação Antártica Comandante Ferraz, no último dia 21 de fevereiro, onde havia chegado fazia menos de 20 dias. Alpinista profissional, havia sido contratado pela Marinha para trabalhar com os pesquisadores e militares, ajudando a coletar amostras de material em áreas de difícil acesso na região. Não podia imaginar que sua experiência no combate ao fogo seria aplicada na missão.

“Era por volta de 1h da madrugada de sábado (25) quando eu percebi que houve uma variação de energia. Fui até a sala de convivência, ver se encontrava outras pessoas. Foi quando um militar me perguntou: ‘Está tendo um incêndio na base, você é bombeiro, pode ajudar?’. Eu me equipei e quando cheguei lá, o fogo já havia consumido três garagões, que são como eles chamam os módulos”, lembra o tenente em entrevista exclusiva ao G1. "Foi tudo muito rápido, a gente fez tudo o que foi possível", diz.

“A base é contígua, e o fogo começou. Veio andando do fundo para frente. Eram labaredas enormes, de mais de 5 metros. Os dois militares que morreram estavam conosco, no combate às chamas”, diz Victor, que chegou a São Paulo na tarde de segunda-feira (27) em um voo da Aeronáutica procedente de Punta Arenas, no Chile, para onde foi levado com o restante dos pesquisados e dos militares que deixaram a Antártica no domingo (26).

Victor se recorda que o suboficial Carlos Alberto Vieira Figueiredo e o sargento Roberto Lopes dos Santos, que morreram na tragédia, acessaram uma área onde supostamente haveria produtos inflamáveis ou químicos que poderiam acelerar as chamas e tentariam retirar o material de lá, mas ficaram retidos pelo fogo. Diz também que o gerador de biocombustível, que era novo e havia sido inaugurado dias antes, não estava ligado no momento do incêndio.

Analisando a situação como bombeiro, ele diz que havia muitos hidrantes, apenas um sprinkler (chuveiro automático para extinção de incêndio), mas que não havia necessidade de mais aparelhos. Além de o alarme de incêndio não tocar, outro problema foi que o sistema de incêndio foi afetado, prejudicando a ação de combate e fazendo com que os militares buscassem meios alternativos, como bombas de água, para tentar apagar as chamas.

"Pra mim, como bombeiro, apagar um incêndio na Antártica foi um grande aprendizado e uma experiência de vida. A temperatura ambiente no exterior estava em torno de -2ºC e o fogo se alastrou rápido", diz. “Os militares da Marinha tiveram muita fibra até o final. Mesmo quando o fogo já havia consumido toda a base, eles continuaram lá, jogando água e tentando apagar. A maior perda que tivemos foi humana. Vivíamos como uma grande família. Todos ficaram muito abalados quando as mortes foram confirmadas”, diz o oficial.

Victor diz que os pesquisadores conseguiram retirar pouco material da base. Ele conseguiu recuperar uma mochila com pertences pessoais. “Os pesquisadores conseguiram retirar pouco material da base, porque um local onde estavam as pesquisas ficou inacessível durante o incêndio. Mas o restante dos laboratórios é distante da base, fica em outros módulos que não foram atingidos. Eu perdi uma mochila com equipamentos de escalada, que estavam na carpintaria, um dos primeiros módulos a pegar fogo, e também algumas roupas", diz.

"É bom estar em casa. Estou cansado, mas, se a Marinha me chamar e o Corpo de Bombeiros autorizar novamente, eu gostaria de voltar ao Programa Antártico", afirma.

Info prédio principal Estação Antártica Comandante Ferraz (Foto: arte/G1)

Fonte:
http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2012/02/bombeiro-de-sp-ajudou-apagar-incendio-na-base-na-antartica.html

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